Doenças
Oídio - Uncinula necator
Sendo a doença mais combatida a nível nacional, nesta região não tem a mesma importância, provavelmente pelas Primaveras serem geralmente muito chuvosas. A importância do combate a esta doença é acrescida pela oportunidade de instalação de uma outra doença, a podridão cinzenta, que nesta região tem vindo a aumentar.
O fungo inverna quer na forma de micélio (fase assexuada) no interior dos olhos protegido pelas escamas, quer sob a forma de cleistotecas ou peritecas (fase sexuada) nos sarmentos, folhas caídas ou no próprio solo. Sendo um ectoparasita, o micélio localiza-se no exterior dos tecidos vegetais, alimentando-se das células através de órgãos sugadores, designados por haustórios. Quando o micélio amadurece emite grande quantidade de conídios que levados pelo vento contaminam qualquer órgão verde da videira, constituindo as infecções primárias do fungo.
Todavia, estudos recentes revelaram que nesta região as infecções primárias têm mais origem nas cleistotecas presentes nos sarmentos do que no micélio, o que naturalmente define atempadas estratégias de luta nos primeiros ataques.
A partir das infecções primárias, surjam elas de uma forma ou de outra, e desde que as condições climáticas sejam favoráveis, suceder-se-ão as infecções secundárias sucessivamente. O oídio desenvolve-se com temperaturas compreendidas entre 5 a 40ºC, aumentando o seu crescimento a partir dos 15ºC, e a partir dos 25% de humidade relativa do ar, que quanto mais elevada mais quantidade de conídios forma; este aspecto é importante, dada a sua dependência da humidade mas não de chuvas abundantes (como o míldio) podendo tais chuvas 'lavar' mesmo os conídios. Isto explica a sensibilidade da videira ao oídio em regiões mais quentes, onde a precipitação é baixa, mas cuja proximidade de um rio, por exemplo, garante a humidade relativa do ar suficiente para o seu desenvolvimento.
Entre as castas da região mais sensíveis a esta doença, destaca-se a casta branca Azal e a casta tinta Borraçal.
Face às condições climáticas desta região, com frequentes Primaveras chuvosas, o oídio só começa verdadeiramente a preocupar entre a floração e o pintor, e desde que não haja conhecimento à poda da presença significativa da doença nas varas.
Órgão (estado fenológico)
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Sintomas do Oídio
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Ramo jovem (F)
Folhas (E-F)
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Enfeltrado branco com origem no micélio hibernante, com enconchamento das folhas se o ataque for intenso ('bandeiras').
Ligeiro frisado no bordo do limbo. Pequenas mancham descoradas amarelo brilhantes de contornos irregulares na página superior. Aumento da sua extensão e evolução do enfeltrado branco nas duas páginas. Necroses nas nervuras da página inferior.
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Pâmpanos (F-M)
Sarmentos
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Manchas difusas verde escuras, que evoluem para a cor acastanhada após o atempamento.
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Inflorescências (H-I)
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'Pó branco' nos botões florais, e possível dessecamento posterior das flores. Pouco frequente.
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Cacho (J-M)
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'Pó branco' nos bagos, pedúnculo ou pedicelo. Nos bagos ainda pequenos, estes encarquilham e secam; nos maiores, do aspecto pulverulento passam a fendilhar evidenciando as grainhas e acabam por necrosar.
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Uma forma de distinguir os sintomas do oídio dos do míldio ao nível da folha, são que a mancha do oídio é de contorno irregular, não tem aspeto 'oleoso' e apresenta necroses nas nervuras da página inferior. Os sintomas ao nível dos bagos em crescimento são inconfundíveis, pois a morte das células epidérmicas levam ao seu endurecimento, provocando o fendilhamento da película que não acompanha o crescimento da polpa, ficando assim uma 'porta aberta' para a Botrytis.
Deste modo, os estragos provocados pelo oídio afectam essencialmente a quantidade da produção quando atingem o cacho em crescimento, e de um modo indirecto, a produção quanti-qualitativa da vindima pelo consequente ataque da podridão dos cachos.
O único meio atualmente eficaz de combate ao oídio é o químico, sendo o enxofre sem dúvida, o produto mais recomendado no seu controlo, quer como preventivo quer como curativo. A ação do enxofre sobre o fungo exerce-se pela sua volatilização, o que determina que a eficácia varie em função da temperatura do ar; assim, a temperaturas baixas o enxofre atua mal e a temperaturas elevadas (>35ºC) pode provocar queimaduras.
O enxofre pode ser aplicado quer em pó, vulgarmente conhecido por enxofre flor, ou ainda sob a forma de enxofre molhável, grãos dispersíveis em água, e mais recentemente sob a forma líquida.
No início do ciclo e dado que as temperaturas são baixas pode reforçar-se a dose de enxofre, no entanto a dose média recomendável por hectare, no que respeita ao uso do enxofre em pó, é de 30 kg. Normalmente em situações de baixo risco do oídio, são suficientes 3 pulverizações com enxofre em pó: na fase de cachos visíveis, à floração-alimpa e ao fecho do cacho. À floração é recomendável o uso do enxofre em pó, pois é conhecido o efeito benéfico que tem sobre a fecundação dos óvulos, favorecendo o vingamento. O enxofre para além de actuar sobre o oídio tem também uma acção sobre a escoriose, sobre os ácaros e ainda sobre o míldio, pelo efeito sinergético ao aumentar a eficácia dos produtos usados contra o míldio quando aplicados conjuntamente com o enxofre.
Embora conhecida a ação potenciadora do enxofre em pó no controlo destas doenças, hoje em dia, nesta região o enxofre é sobretudo usado na forma de enxofre molhável, dada a facilidade de aplicação e economia de tempo ao efectuar-se o tratamento conjuntamente com os produtos anti-míldio. Tudo leva a crer que este hábito regional - de juntar sempre o enxofre quando se trata o míldio - não ser assim tão despropositado. A dose recomendada de enxofre molhável é de 4 kg/ha, podendo no início do ciclo aumentar-se até aos 8 kg.
Na presença de castas muito sensíveis e em condições ambientais de grande pressão do oídio, que nesta região ocorre durante o período entre a floração e o bago de ervilha, pode ser recomendável recorrer ao uso dos produtos I.B.E (inibidores da síntese do ergosterol) que apresentam maior eficácia que o enxofre, actuando bem a baixas temperaturas; todavia, não se devem fazer mais que 3 tratamentos com estes produtos. É que o uso sistemático destes produtos num esquema de tratamentos, em substituição completa do enxofre, para além de poder vir a criar resistências por parte da videira, não gozam da vantagem de exercer qualquer efeito sobre outra doença e sobretudo sobre os ácaros.
Um meio de luta cultural prende-se com a condução da videira, que deve privilegiar sebes bem arejadas pois o oídio é sensível à luz directa, e por conseguinte evitar situações de deficiente arejamento e de sombra; à semelhança do que foi referido para o míldio, também é importante o controlo do vigor das videiras.